segunda-feira, 9 de junho de 2008

Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueça daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Dá mágoa, sem remédio, de perder-te

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

(Luís Vaz de Camões)
site: http//www.fisica.ufpb.br
Camões é tradicionalmente considerado o maior poeta lírico português. A sua poesia lírica é marcada por uma dualidade: ora são textos de herança da tradicional poesia portuguesa (as redondilhas), ora são poesias enquadradas no estilo novo do renascimento, como mostra o soneto: Alma minha gentil, que te partiste, que tem como tema o amor do sujeito poético para com a sua amada, que para sua tristeza morreu jovem. Como sua amada já se despediu para sempre (morreu) o tom desse poema é voltado para um ambiente amargo e triste. O poema também tem a função de revelar a saudade do sujeito poético a sua amada que, provavelmente, o pode ouvir lá do céu.
O poema tem uma estrutura em forma de soneto que possui forma fixa, apresentando dois quartetos e dois tercetos, as duas quadras apresentam rimas interpoladas e emparelhadas (ABBA, ABBA) e os dois tercetos rimas cruzadas (CDC, DCD). Há semelhanças sonoras no final de diferentes versos, dando musicalidade ao poema, seus versos são decassílabos apresentando simetria, há também a presença de advérbios; tão, eternamente e sempre intensificando o poema.
(Josiany Costa dos Santos)

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